A menina estava afim do príncipe, muito afim!
Ele a tinha convidado para um baile com a promessa de que teriam uma noite inesquecível.
A menina queria muito, muito mesmo, ter uma noite inesquecível com o príncipe.
Só que apareceu o sapo.
Não era galante como o príncipe, nem tão sedutor, não tinha o humor e a inteligência do príncipe, tampouco despertava nela desejos impetuosos e inexprimíveis.
Afinal, era um sapo! Sapos não despertam desejos.
Mas o sapo ofereceu não uma noite inesquecível: ofereceu companhia.
O tipo de companhia que os príncipes, por serem príncipes, não podem oferecer porque são o que são: príncipes.
Um príncipe não te oferece companhia e companheirismo; oferece-te a possibilidade da realização de um sonho, ou antes, a realização de um desejo inconfessável o qual, o pobre do sapo nem sabe que existe.
Que dilema!
Ter que escolher entre o príncipe e o sapo é de uma crueldade incomensurável. É como ter que escolher entre bolo de chocolate coberto com chantilly ou jiló.
Quem, em são consciência, vai escolher comer jiló se pode comer o príncipe?!
A menina, acreditando ser sábia, escolheu o sapo.
E não entende porque, depois de 10 anos, ainda lembra e fantasia e sonha com o príncipe.
Não contaram a ela que se tivesse passado a noite com o príncipe estaria livre para ficar com o sapo depois.
A coitada, hoje, amarga o desejo recalcado se empanturrando de bolo. De chocolate!
LFG, 23/03/2010.