domingo, 30 de maio de 2010

Armário


Revirava as gavetas e portas do armário tentando encontrar algo. 
Não sabia o que, mas deveria encontrar. 
O sentimento era de urgência.

Tantas recordações! Tantos papéis amarelados pelo tempo inexorável. 
Fotos de lugares e de pessoas que nunca mais havia visto enchiam os 
olhos de uma saudade alegre. Cartões de aniversário ou de namorados 
ou amigos com frases feitas, mas sei que foram escolhidos a dedo em 
uma pilha deles. Pedrinhas de rios nos quais molhei meus pés. Uma 
flor seca embrulhada (de onde viria? Não lembrei).

Sim, a saudade pode ser alegre. Saudade alegre é aquela que te faz 
rememorar tipos e situações que te fazem pensar que valeu a pena ter 
vivido, que nada é em vão. Ao contrário da saudade triste que te prende 
no passado.

Senti saudade e entendi o sentido da busca: viver o que vale a pena!

Passei em revista minha vida hoje, fazendo um balanço frio e calculista, 
e me questionando o que fará a vida ter valido a pena daqui a cinco anos.

Meu filho, sempre!

Meus amigos (tenho estado tão pouco com eles).

Minha profissão, que escolhi por paixão.

Minha família, que não escolhi, mas provavelmente escolheria se fosse possível.

Nos contras restaram duas ou três pessoas e uma infinidade de 
comportamentos meus que sei que tenho que elaborar e mudar. 
Os comportamentos dizem respeito só a mim e com eles me viro; 
quanto às pessoas...

Como prever? 

Deixo então o cálculo frio na gaveta de baixo, sob todos os papéis 
amarelados e a fecho. Voltarei a ela daqui um tempo e só então 
poderei dizer, por ter vivido, se elas me enchem os olhos de saudade.


LFG, 30 de maio de 2010.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Olhos sorrindo!!!


Tem certos dias nos quais temos que admitir nossa incapacidade para descrever em palavras escritas o que nos vai na alma.

E quando chega esse dia, sábio é emprestar a genialidade de alguém já consagrado (ou dois, no caso) para contar e cantar por nós o que somos pequenos para descrever.


"Meu coração, não sei por que
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo"



"Vem matar essa paixão 
que me devora o coração
E só assim então serei feliz
Bem feliz"


Se sou-no-mundo idealizando, deixe-me idealizar a gente.


LFG, 27 de maio de 2010.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Gente Grande



Gosto de falar com você porque aprendo mais de mim. Você permite-me colocar à prova meus limites e vejo que não tenho os limites que sempre pensei.
Cresço demais, em poucas horas, o que provavelmente, sem você, levaria meses ou anos para crescer.
Seu senso crítico do mundo e das pessoas, sua língua afiada, seu humor acido casam com minhas idéias e me fazem conhecer mais acerca de mim.
As benfeitorias foram muitas; o tempo de prazer compensou largamente o tempo de angústia; mas chega um momento em que não temos armas ou forças para continuar.
Hoje se esvaiu mais do que o gozo fácil; junto foi o riso largo e difícil de me arrancar.
Mas em briga de gente grande não há perdedores ou vencedores e espero que possa enxergar que não perdemos nada. Talvez o balanço final penda positivamente, pois nos abrimos demais um para o outro e quando isso acontece nos abrimos para nós mesmos.
Tivemos uma relação “télica”, que sofreu ruídos externos de ondas muito fortes...
Mas não há o que lamentar!
Não se sinta vencido ou vencedor, ambos somos autores da nossa história e poderemos contá-la mais tarde para divertir ou emocionar.
Saudemos hoje o maior de todos os guerreiros: o amor!
Que seja bem-vindo e que seja sempre ele a vencer.




E para falar em coincidências e de me ver onde não estou, quando estive estampada na sua frente você não me viu:
- Prazer; me chamo Lírio!

Lilian ( ou do latim - Lirio do campo), 24 de maio de 2010.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Anjos existem!




A vida vale a pena por diversos motivos, grandes e/ou pequenos.
Sonhos que viram projetos que são concretizados dão importância à vida.
O amanhecer que traz possibilidades inesgotáveis dá sentido à vida.
Mas detalhes que, por vezes, parecem muito pequenos lhe dão significado:

Velava o sono de meu filho quando ele, sonhando, começou a rir.
Um riso tão alegre que me fez acreditar que estava brincando com os anjos.
Isso vale a vida!



 *********


Era um menino de oito anos de idade e cursava o terceiro ano da escola. Sua professora notou que seus desenhos eram todos pretos. Nunca usava outra cor além do preto para desenhar. Preocupada, levou o caso à diretora da escola que por sua vez chamou a mãe do menino para contar o que ocorria em sala de aula. A mãe da criança, por sua vez, também se preocupou. Por que o filho só desenha com a cor preta?
Confabularam e decidiram procurar um psicólogo para diagnosticar a depressão profunda que certamente assolava o pequeno.
Marcada a data, lá foi o menino acompanhado pela mãe.
E porque existem maneiras diferentes de olhar um mesmo fenômeno, a pergunta feita pelo profissional foi fundamental:
- Por que você desenha tudo preto?
- Sabe o que é? Eu sou o mais alto da turma e por isso sento na ultima carteira. Quando é dia de desenho na escola, a professora abre a caixa de lápis de cor em cima da sua mesa e as crianças têm que ir até lá para pegar. Tá vendo esse joelho? Eu tenho um defeito nele e ando mancando, demoro a chegar à mesa da professora. E quando chego e vou pegar um lápis, só tem o preto.
A vida é simples! (e bela)




LFG, 21 de maio de 2010.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Fogueira!!!


Consentimento.
Um ato, de qualquer espécie que seja que envolva duas (ou mais) pessoas ou é consentido ou abusivo.
Existe linha tênue que separa permissão de abuso?

Consentimento, no dicionário é:
·        * s.m. Ação de consentir: dar o consentimento.
Manifestação de vontade expressa ou tácita pela qual uma pessoa aprova um ato que deve ser cumprido por outra.
*Anuência, aquiescência, permissão, autorização (para fazer alguma coisa).

Abuso:
·        * Indica um comportamento inadequado e excessivo.
·        * Ato de tirar proveito da confiança depositada por alguém para um fim indevido;

·        * Conjunto de atos ou comportamentos que ameaçam (...) outra pessoa.

Historicamente as mulheres são culpabilizadas por serem vitimas.
Como se o “ser-mulher” estivesse imbuído de pressupostos que autorizam que seja violada em sua vontade.
O abuso passa a ser consentimento dissimulado e, impedidas de serem entendidas como vítimas, as mulheres se escondem por vergonha, medo de apontamentos que fatalmente a julgarão como provocadoras do abuso, seja ele qual for.

Hoje faço um protesto contra uma sociedade doente que insiste em ver na mulher a prostituta criada pela Igreja – bruxas queimadas em fogueiras, sedutoras a serviço do diabo que mereciam a morte por perturbarem sexualmente os “santos homens”.
Ainda vivemos como na Inquisição, só que hoje a morte na fogueira é velada. É uma fogueira particular, que queima não o corpo, mas a alma.



lfg, 18 de maio de 2010.

Penso, logo existo?



Desde pequena ouvia uma estória mais ou menos assim: 

O espírito é criado para ser eterno. No tempo infinito do universo, chega um momento particular no qual o espírito é separado, tornando-se dois. Diziam que a certeza da separação do espírito em dois podia ser comprovada: o umbigo é a cicatriz da separação.
Isso caracteriza o que comumente se chama “alma gêmea”. As almas gêmeas então tinham que descer à terra, estando desde o principio destinadas ao encontro.

         Adolescente romântica que fui, sonhava em encontrar a minha “metade da laranja”: o homem que se encaixaria certinho em mim e me completaria em todos os sentidos. E espíritos únicos que fomos na eternidade, seríamos felizes  plenamente a partir de então, haja vista que ele também me reconheceria como UM.

Minha vida adulta encontrou-me em melhor juízo: Não creio em “alma gêmea”.

Creio em complemento e não em completar. Creio em espíritos únicos que se atraem por semelhanças e decidem compartilhar uma vida, ou alguns momentos de uma vida.

Diante disso - de meu cógito cartesiano - me assombra certas “coincidências” que aparecem no decurso de uma vida.

           O numinoso Junguiano, na minha parca concepção de sujeito civilizado, aproximar-se-ia de uma explicação plausível:

“Numinoso é um confronto com uma força que encerra um significado ainda não revelado, atrativo e profético ou fatídico.”

Ou seja, conteúdos inconscientes rompem a barreira do Ego, dominando a personalidade consciente, resultando em um encontro com o divino (individual ou coletivo), produzindo experiências tão profundas que meras descrições cartesianas não alcançam seu significado.

Bem, o que alhos têm a ver com bugalhos?

Surgem circunstâncias em nossas vidas para as quais não encontramos explicação:

- Quando você, por exemplo, encontra um grão de areia colorida no meio do oceano. É sorte? Ou profético e fatídico?

- Quando você abre um livro ao acaso e se depara com um termo específico, o qual horas antes havia sido tema de debate. Coincidência? Ou significado atrativo?

- Quando, num diálogo, leve e franco, frases quase idênticas são ditas ao mesmo tempo. Pensamentos que consideramos originalmente nossos, de repente, não são mais exclusivos: são compartilhados. Traços de personalidade em comum que te fazem pensar que você não é tão única quanto acreditava ser. Casualidade ou significado ainda não revelado?

- O que colocamos no lugar do cógito quando o que temos no mundo concreto não é suficiente para explicar que leis da física não são universais e que removedores não apagam todos os tipos de tinta?

Junte-se a isso o fato (?) de uma previsão que parece se confirmar!

Uma profecia (?) que anunciava que, mais cedo ou mais tarde, você se depararia com um certo alguém; especificamente um “alguém”...

Alma gêmea? Claro que não! Não existe alma gêmea.

O que é então?

Quando não somos os criadores dos fatos e sim arrebatados por eles, cabe-nos buscar uma explicação lógica ou aceitar que experiências misteriosas e enigmáticas fazem parte de nossas vidas?
           
            Por minha vez prefiro a crença no numinoso, no que transcende; na experiência que marca profundamente e está além da minha parca compreensão. Prefiro me impressionar com o “mágico” e esquecer o cógito que “me faz existir”.





Adoro essa sua cara de sono
E o timbre da sua voz
Que fica me dizendo coisas tão malucas
E que quase me mata de rir
Quando tenta me convencer
Que eu só fiquei aqui
Porque nós dois somos iguais
Até parece que você já tinha
O meu manual de instruções
Porque você decifra os meus sonhos
Porque você sabe o que eu gosto
E porque quando você me abraça
O mundo gira devagar
E o tempo é só meu
E ninguém registra a cena
De repente vira um filme
Todo em câmera lenta
E eu acho que eu gosto mesmo de você
Bem do jeito que você é

LFG, 18 de maio de 2010.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Amor



O amor nada mais é que o poder de acelerar a resiliência da alma.

(André Arantes)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

AntiVerbo



A certeza veio do nada. Sem aviso prévio. Pegando-me totalmente desarmada. 
Claro que neguei: isso é impossível e não está acontecendo!
Sou eu quem determina minha vida e minhas escolhas. E determinante que sou, sei me virar com as conseqüências sobre aquilo que escolho - ou não.
Determinei que, para a minha vida, as escolhas seriam pautadas na realidade e possibilidade.
O impossível me atrai, mas só trago para dentro de mim o possível.
Ou trazia.
Ou não me coube trazer, então.
Sei que a certeza chegou e fincou pé proferindo que não há racionalização que a afaste de dentro de mim.
Sou sujeito passivo em uma oração que não escrevi.
Objeto do destino; ou adjetivo e joguete na construção hábil de um escritor que me superou.
Entristece-me não poder ser verbo...
Verbo é a ação, é o vivo, o agora.
É o que liga e movimenta.
Determinada ou indeterminada, não posso escolher ser verbo.
As escolhas já não me cabem mais. 


lfg, 13 de maio de 2010.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O caminho é pequeno para mim!

Hoje uma estórinha ;)


90 Graus

O caminho se abria e havia então duas opções à frente. Poderia permanecer onde estava, no caminho reto, ou fazer uma curva acentuada à direita. O ângulo da curva era de 90°, impossível saber o que surgiria no caminho.
Que tentação permanecer em linha reta!
Sabe como é: já era um caminho conhecido, estava habituada a ele. Não me traria surpresas desagradáveis (nem agradáveis). Era seguro, enfim.
Olhei ao lado procurando um sinal. Sempre que me via em dúvida tentava me apegar a algum sinal que, necessariamente, viria de fora. Nunca fui dada a introspecções, voltando-me para dentro de mim e buscando respostas às minhas questões. Sempre tive necessidade de buscar as respostas no lado de fora. Crença introjetada de que o mundo sabe mais acerca de mim do que eu mesma.
Buscando no exterior o sinal desejado, vi um lindo pássaro azul e verde sobrevoando a bifurcação à minha frente e, de súbito, tomando o rumo que levava ao caminho reto.
Decepcionou-me sobremaneira o pássaro! Queria que tivesse decidido por mim a tomar o caminho curvo e desconhecido, mas o desventurado não podia saber do meu desejo.
Opa! Ele não sabia do meu desejo?
Então, pela primeira vez me dei conta de que eu era possuidora de desejos e de vontades que respondiam aos meus desejos.
Decidida, segui adiante e, na estrada que se abria, segui o ângulo, adentrando o desconhecido e a primeira surpresa (ou segunda, depois da descoberta sobre mim) foi notar que o caminho, por mais estranho que me parecesse a principio, era agradável e confortante.
O ar que aspirava parecia mais fresco; a brisa que roçava os arbustos, mais suave; o sol que penetrava seus raios por entre as copas das árvores tocava meu corpo mais quente. Tudo conhecido; entretanto tudo tão novo!
Enchi-me de uma coragem que não sabia ser possuidora, firmei o passo e segui o caminho irregular que se me apresentava: curvas cada vez mais fechadas, subidas e descidas, rios que, de repente, atravessavam a estrada, obstáculos que me pareciam intransponíveis - os quais galguei com dificuldades, para, depois de vencidos, parecerem-me meros percalços.
E cheguei enfim onde estou: não sei em que altura do trajeto, se já andei de mais ou de menos. Sei que hoje meus pés tocarão um caminho diferente e que vou, a qualquer momento, me surpreender com o desconhecido e me espantar com o mundo e comigo mesma: com o mundo por ser sempre surpreendente quando nos dispomos a vê-lo; a mim mesma por ter a coragem necessária para olhar o mundo com outros olhos.

O caminho é pequeno para mim!


LFG, 11 de maio de 2010.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Dual



Se sou fraca e tola perdoe-me.

Não sou fortaleza que, por vezes, proclamo.

Sou assim e assado,

Verso e reverso,

Continuidade e fim.

Sou dual, enfim.

Mas abro em mim espaços para entremeios e entrelinhas...

E nas entrelinhas me encontro em paradoxos

Os quais me afirmam e desmentem

E é ali, no meio, que você pode me desvendar.


LFG, 07 de maio de 2010.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Bravos!



Você tem meu coração em suas mãos

Cuide-o.

Apesar de resistirmos bravamente

Negarmos o que a alma já conhece

Insistirmos em um encontro casual

Somos predestinados,

Senão ao amor nesta vida,

À eternidade!



LFG, 05 de maio de 2010.


Som!!!


segunda-feira, 3 de maio de 2010



Quando você começar terá terminado.
Vivemos tempos diferentes.
Quando me apaixonei você se fechou. Quando me aproximei você se afastou. Enquanto desejei, você recusou.
Hoje digo adeus e você não entende por que.
Eu desejo alegria, você gosta da dor.
Somos diferentes.
Eu me proponho a viver o novo como se nunca houvesse vivido nada semelhante na vida.
Você insiste em comparações com o passado,
Com personagens que não me cabem porque sou única:
Não sigo repetindo passos alheios.
Mas você não consegue ver minha especificidade,
Teima em me enquadrar em algum conceito seu que permanecerá cristalizado
Até chegar o dia em que verá quanto tempo perdeu se prendendo a sentimentos findos
E ai, quem sabe, quererá deixar para trás o que passou e seguir em frente,
Como se cada dia fosse único e percebendo que,
Por mais semelhantes que pessoas possam ser,
As histórias entre elas sempre será diferente.
Mas você não consegue me olhar e me ver.
E hoje digo adeus para um sentimento que foi grande e belo,
O qual você não percebeu a existência, preso que estava no ontem.
Digo adeus à você.

LFG, 03 de abril de 2010.