terça-feira, 18 de maio de 2010

Penso, logo existo?



Desde pequena ouvia uma estória mais ou menos assim: 

O espírito é criado para ser eterno. No tempo infinito do universo, chega um momento particular no qual o espírito é separado, tornando-se dois. Diziam que a certeza da separação do espírito em dois podia ser comprovada: o umbigo é a cicatriz da separação.
Isso caracteriza o que comumente se chama “alma gêmea”. As almas gêmeas então tinham que descer à terra, estando desde o principio destinadas ao encontro.

         Adolescente romântica que fui, sonhava em encontrar a minha “metade da laranja”: o homem que se encaixaria certinho em mim e me completaria em todos os sentidos. E espíritos únicos que fomos na eternidade, seríamos felizes  plenamente a partir de então, haja vista que ele também me reconheceria como UM.

Minha vida adulta encontrou-me em melhor juízo: Não creio em “alma gêmea”.

Creio em complemento e não em completar. Creio em espíritos únicos que se atraem por semelhanças e decidem compartilhar uma vida, ou alguns momentos de uma vida.

Diante disso - de meu cógito cartesiano - me assombra certas “coincidências” que aparecem no decurso de uma vida.

           O numinoso Junguiano, na minha parca concepção de sujeito civilizado, aproximar-se-ia de uma explicação plausível:

“Numinoso é um confronto com uma força que encerra um significado ainda não revelado, atrativo e profético ou fatídico.”

Ou seja, conteúdos inconscientes rompem a barreira do Ego, dominando a personalidade consciente, resultando em um encontro com o divino (individual ou coletivo), produzindo experiências tão profundas que meras descrições cartesianas não alcançam seu significado.

Bem, o que alhos têm a ver com bugalhos?

Surgem circunstâncias em nossas vidas para as quais não encontramos explicação:

- Quando você, por exemplo, encontra um grão de areia colorida no meio do oceano. É sorte? Ou profético e fatídico?

- Quando você abre um livro ao acaso e se depara com um termo específico, o qual horas antes havia sido tema de debate. Coincidência? Ou significado atrativo?

- Quando, num diálogo, leve e franco, frases quase idênticas são ditas ao mesmo tempo. Pensamentos que consideramos originalmente nossos, de repente, não são mais exclusivos: são compartilhados. Traços de personalidade em comum que te fazem pensar que você não é tão única quanto acreditava ser. Casualidade ou significado ainda não revelado?

- O que colocamos no lugar do cógito quando o que temos no mundo concreto não é suficiente para explicar que leis da física não são universais e que removedores não apagam todos os tipos de tinta?

Junte-se a isso o fato (?) de uma previsão que parece se confirmar!

Uma profecia (?) que anunciava que, mais cedo ou mais tarde, você se depararia com um certo alguém; especificamente um “alguém”...

Alma gêmea? Claro que não! Não existe alma gêmea.

O que é então?

Quando não somos os criadores dos fatos e sim arrebatados por eles, cabe-nos buscar uma explicação lógica ou aceitar que experiências misteriosas e enigmáticas fazem parte de nossas vidas?
           
            Por minha vez prefiro a crença no numinoso, no que transcende; na experiência que marca profundamente e está além da minha parca compreensão. Prefiro me impressionar com o “mágico” e esquecer o cógito que “me faz existir”.





Adoro essa sua cara de sono
E o timbre da sua voz
Que fica me dizendo coisas tão malucas
E que quase me mata de rir
Quando tenta me convencer
Que eu só fiquei aqui
Porque nós dois somos iguais
Até parece que você já tinha
O meu manual de instruções
Porque você decifra os meus sonhos
Porque você sabe o que eu gosto
E porque quando você me abraça
O mundo gira devagar
E o tempo é só meu
E ninguém registra a cena
De repente vira um filme
Todo em câmera lenta
E eu acho que eu gosto mesmo de você
Bem do jeito que você é

LFG, 18 de maio de 2010.

Um comentário:

  1. Lilian, nem sempre a vida nos da as respostas desejadas.
    Como lhe disse certa vez, por vezes estamos a ensinar e não só para aprender.
    Por vezes, não encontramos respostas mesmo que as busquemos infinitamente.
    Esta além!

    Beijos!

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